Pandemia
Exaustão de profissionais da saúde pode colapsar sistema, aponta Fiocruz
A pediatra Neila Carla Oliveira, intensivista no Hospital Municipal Jesus, em Vila Isabel, Zona Norte do Rio, viveu os últimos sete meses sob uma tensão intensa. Os nervos sofriam um ataque triplo: da sucessão de mortes por Covid-19 – cinco a seis por plantão – da maratona de trabalho acentuada pela necessidade de substituir de colegas contaminados; da impossibilidade de abraçar familiares.
Exaurida, Neila procurou ajuda psicológica para seguir adiante. Outros tantos profissionais da área enfrentam sequelas semelhantes impostas pela pandemia. Constatada por uma pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz, que ouviu 3,5 milhões de trabalhadores de todo o Brasil e cuja divulgação está programada para os próximos dias, a exaustão física e mental desses profissionais aponta um risco de colapso do sistema de saúde.
“Se a gente não baixar logo a curva de contágio, o sistema pode entrar em colapso. Não por falta de leito e UTI, e sim por problemas na força de trabalho especializada no combate à Covid. Esses profissionais estão chegando à exaustão”, alerta a coordenadora do estudo, Maria Helena Machado.
A preocupação da especialista, doutora em sociologia das profissões, fundamenta-se na convergência entre a exaustão dos profissionais de saúde assinalada na pesquisa e o ritmo de contaminação longe de uma queda significativa. De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde do Rio, a curva referente ao número de casos de Covid-19 não indica um recuo consistente. O estado registra mais de 300 mil infectados e 20 mil mortes. Ainda assim, a fase 6B da flexibilização na capital, em vigor desde o início do mês, permitiu a abertura de cinemas, casas de show e música ao vivo em bares e restaurantes.
Os resultados colhidos pela equipe da Fiocruz acendem o alerta em relação aos serviços de pronto-atendimento. “A população precisa entender que flexibilizar não é flexibilizar a vida”, reitera a pesquisadora Maria Helena.
Com a ajuda psicológica, a médica Neila passou a gerenciar melhor as tensões da pandemia e reencontrou o equilíbrio: “É um alívio a gente poder chorar, desabafar tudo o que passamos. Isso foi primordial”.
Segundo o levantamento da Fiocruz, o risco elevado de contaminação revela-se uma das principais fontes de estresse prolongado para os profissionais da área. A cardiologista Adriana Monteiro Correa lembra que ficou “até um pouco neurótica com isso”. Ela integrou a equipe de mil profissionais do Hospital de Campanha Lagoa-Barra. Entre o fim de abril e o início de agosto, cerca de 750 pacientes com Covid-19 foram atendidos por lá. Quase 700 precisaram de UTI.
As incertezas em torno da nova doença também eram motivo de estresse. “O hospital de campanha foi um desafio muito grande. Tive que estudar várias coisas que não tinha visto antes, pois a Covid-19 é novidade para todo mundo. Isso me ocupou muito”, relata a cardiologista.
As taxas de contaminação e de óbitos dos profissionais da saúde no Brasil estão entre as maiores do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos e do México. O boletim epidemiológico divulgado pelo Ministério da Saúde no dia 3 de outubro contabiliza 330 mortes de agentes da saúde desde março. A quantidade, no entanto, pode ser maior. O Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) registra 454 mortes só de profissionais da enfermagem, com uma letalidade de 1,94% – 53 deles no Rio. Já o Conselho Regional de Medicina do Rio (Cremerj) estima que 61 médicos morreram em decorrência do novo coronavírus no estado. Maria Helena, da Fiocruz, observa uma relação direta entre essas mortes e as condições de trabalho.
Fiocruz/Divulgação a coordenadora do estudo, Maria Helena Machado
A pesquisadora refere-se, além do alto risco de contaminação, às extensas jornadas de trabalho, entre 60 a 80 horas semanais, e aos lugares insalubres em que parte desses profissionais trabalha.
O avanço da exaustão física e mental constatado na pesquisa da Fiocruz tende a aumentar o volume de licenças médicas desses profissionais. “Observamos, nesses profissionais, um aumento no uso de medicamentos, reclamação sobre sonos intranquilos, níveis extremamente altos de estresse e problemas de saúde física e emocional. Essas pessoas estão adoecendo”, afirma Maria Helena.
Para a coordenadora da pesquisa da Fiocruz, o apoio psicológico torna-se indispensável aos profissionais da saúde no contexto pandêmico. Ela lamenta que grande parte dos hospitais brasileiros não disponha de “estrutura básica de conforto” para esses trabalhadores, principalmente enfermeiros e técnicos de enfermagem: “Algumas coisas básicas já poderiam ter sido implantadas, de maneira que os trabalhadores se sentiriam mais queridos e amparados. Isso ajudaria muito a aliviar o estresse prolongado pelos atendimentos na pandemia”.
Fonte: MSN Notícias
GERAL
Show de Roberto Carlos é cancelado por falta de segurança no Pacaembu
Após vistoria, a prefeitura de São Paulo decidiu nesta sexta-feira (19) cancelar um show do cantor Roberto Carlos que estava programado para esta noite na Arena Pacaembu, ainda em obras. O show marcaria o aniversário de Roberto Carlos, que hoje completa 83 anos. Este também seria o primeiro evento que ocorreria no Mercado Livre Arena Pacaembu, desde que foi concedido à iniciativa privada.
A apresentação do cantor estava prevista para ser realizada no segundo subsolo da arena.
Segundo a prefeitura, a decisão foi tomada após equipes dos bombeiros e do Departamento de Controle e Uso de Imóveis (Contru), órgão associado à Secretaria de Habitação, constatarem irregularidades no local, como falta de saídas de emergência, inexistência de sinalização de rotas de fuga, portas de saídas de emergência sem barras antipânico, piso irregular e inacabado devido a obras e sistema de detecção de incêndio inoperante.
No laudo, o Corpo de Bombeiros afirmou ainda que nem “sequer foi apresentado Projeto Técnico para Ocupação Temporária em Edificação Permanente (PTOTEP), contendo as devidas medidas de segurança contra incêndio”.
“Precisamos ter a segurança, sempre, como prioridade. Diante dos laudos emitidos pelos bombeiros e pelo próprio Contru, seria uma irresponsabilidade manter o show de hoje. Infelizmente, o evento teve de ser cancelado em razão do risco apontado nas vistorias. Torcemos para que o espetáculo possa ser realizado em breve, depois de a concessionária sanar as irregularidades”, disse o prefeito Ricardo Nunes.
O antigo estádio do Pacaembu foi concedido à Allegra Pacaembu, que assumiu a gestão do complexo pelo prazo de 35 anos. Desde junho de 2021, o local está em obras.
A previsão inicial era de que, em janeiro deste ano, a nova arena já pudesse receber a final da Copa São Paulo de Futebol Júnior. A Federação Paulista de Futebol (FPF), que organiza o torneio, chegou a confirmar que o jogo seria disputado no Mercado Livre Arena Pacaembu, mas como as obras ainda não terminaram e, alegando “falta de segurança”, a federação decidiu transferir a final do campeonato para a Neo Química Arena, do Corinthians.
No início da tarde de hoje, a concessionária da Arena Pacaembu chegou a divulgar uma nota informando que o show de Roberto Carlos seria mantido, afirmando que “todas as normas vigentes na cidade estão sendo cumpridas” e que não havia “razão para que o evento não seja realizado”. Mas depois a empresa voltou atrás.
“A Concessionária Allegra Pacaembu e a Four Even, no intuito de cumprir as determinações da prefeitura de São Paulo, informam que o show que seria realizado na data de hoje, 19 de abril de 2024, com o cantor Roberto Carlos, não será realizado”, escreveu a empresa no final da tarde de hoje.
De acordo com a empresa, as pessoas que adquiriram ingressos online para o show deverão entrar em contato com o canal de atendimento pelo WhatsApp 0800-232-0800. Já quem comprou ingressos físicos, terá de esperar por um comunicado da empresa de como será feita a devolução dos valores.
Fonte: EBC GERAL
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